“Amor fati”, do latim, significa “amar ao destino”, ou seja, aceitar tudo aquilo que cruza seu caminho, seja positivo ou negativo.
Talvez o que foi citado acima possa soar um tanto estranho, por que quem em sã consciência iria amar a própria dor? Ironicamente, alguém em sã consciência.
Quando dizem que a vida não é um mar de rosas, eu observo, calado, pois discordo. Esta frase é rasa, diferente do mar. Antes de chegar às pétalas de uma flor, há o caule, e neste caso, existem espinhos. Então, o que seria um mar de rosas além de uma alegoria para a vida em si? É como se todos nós estivéssemos, sim, numa imensidão de água coberta por flores com espinhos que as protegem. Quando estamos no oceano, ou quem sabe em uma piscina, se estivermos na profundidade recomendada para nossa altura, o que sobressairá sobre as rosas será nossas cabeças, e é aí que entra o amor fati.
Se estivermos boiando, mas fazendo força com os braços e pernas e não de forma serena, o mar de rosas será dolorido, pois o corpo estará sendo machucado pelos espinhos, e nossa feição denunciaria a dor. Contudo, se quem estivesse boiando, tranquilo, de costas para o mar, não seria afetado, uma vez que os espinhos não estariam mais em contato com o corpo, e por mais que o perfume das flores fosse o mesmo para ambos, quem estivesse submerso até o pescoço, não aproveitaria do aroma, pois a dor falaria mais alto.
Independente da situação atual dos elementos, uma coisa que ambos tinham em comum é que tanto um quanto o outro tiveram que passar pelos espinhos. Um tentava evitar de se machucar, o outro aceitou que a dor é inevitável, porém tanto os espinhos quanto as flores estavam presentes. Um tentava escapar das dores, o outro tentava apreciar o perfume, mas para isso, teria que buscar alguma forma de superá-la, e não fugir dela. Ao parar, respirar e deixar o vento te levar, você se torna um com o mar de rosas, mas isso não significa que você não se machucou. É difícil de imaginar, mas sim, todos possuímos espinhos na nossa carne, mas tudo depende de como nós iremos vê-los.
Os momentos bons virão, da mesma forma que os ruins. E o que fazer quando isso acontecer? Pensar. Quem está em sã consciência; pensa, e pensa muito.
Refletir sobre o que estamos passando é essencial para a nossa evolução como seres humanos. Em momentos de desespero, o melhor não é sair se debatendo na água, mas sim buscar se acalmar e pensar, e ir sentindo a leveza da incerteza e das infinitas possibilidades preenchendo seus pulmões. Quanto mais nos debatemos, mais nos afundamos.
Por exemplo, se estivermos passando por algum momento que nos perturba, nos causa desespero, não é lúcido tomar decisões, pois a impulsividade falará mais alto. Em vez disso, olhe para dentro de si e respire fundo, sinta a vida correr pelo seu corpo; o ar que move as rosas do mar para dar espaço e passagem é o mesmo que agora está dentro de você, e se pergunte “o que eu posso aproveitar dessa situação?”, e meditando no momento, certamente chegará a uma resposta. Isto que citei também pode ser aplicado em situações agradáveis. Logo, tendo controle de seus pensamentos, porque não temos controle sobre mais nada, temos o controle de nós mesmos, por fim, do mundo, pois ele é como nós o vemos.
Não é sobre o que fizeram de nós; é sobre o que fazemos de nós sobre o que fizeram de nós.
Portanto, em sã consciência, a vida é um mar de rosas, não ignorando os espinhos, mas reconhecendo que eles existem e estão lá, porém com a certeza de que as flores também estão, junto de seu perfume e beleza, para que todos nós aproveitemos.