Onze crianças com autismo entrarão neste sábado (30) no gramado do Maracanã com os jogadores do Nova Iguaçu, antes da final do Campeonato Carioca, contra o Flamengo. A ação é da Suderj e tem o objetivo de mostrar que estádios podem (e devem) ser inclusivos.
Ola pessoas queridas, no final de semana circulou pelo Instagram vários reels, onde a ABADI, Associação Brasileira de Autismo e Deficiência Intelectual de Tupã, ganhava destaque nacional pois por meio de um ato solene antes do jogo que aconteceu no sábado no Maracanã, 11 autistas entraram em campo com os jogadores, com abafadores de sons, ai fui falar com Carina Franco Presidente da ABADI, aproveitem nosso bate papo como se deu a luta até chegar ao Maracanã
Oi Carina como chegamos até aqui?
Marô, boa noite. Obrigada pela oportunidade, por toda a atenção e vou tentar resumir para você que esse é um processo bem longo. Esse projeto dos abafadores, ele se iniciou há três anos atrás com o meu posicionamento como mãe de autista e por estar à frente de uma associação, eu fui na contramão da comunidade autista no Brasil inteiro. Eu me levantei e disse que eu não era a favor da proibição dos fogos de artifício porque eu achava que proibir os fogos de artifício não resolvia o problema, como de fato não resolve. Levantou-se toda uma celeuma em torno desse tema porque a comunidade autista bate muito forte em cima do setor pirotécnico. Para o autista proibir os fogos de artifício realmente não resolve o problema. O autista que tem transtorno do processamento sensorial, que é geralmente 80% dos autistas, ele tem uma série de outros barulhos que trazem desconforto extremo para ele, buzina de carro, sirene de ambulância, trovão, barulho de moto. Os fogos de artifício é o que mais você pode trabalhar a previsibilidade com o autista, e previsibilidade para o autista algo é muito importante. Sabemos que no final do ano vai ter fogo de artifício, então você se prepara pra isso. Tem final de campeonato de futebol, você sabe que vai ter fogos de artifício, tem show na sua cidade, você sabe que vai ter fogos de artifício. Então não exponha o seu autista a isso caso ele tenha transtorno do processamento sensorial, pois sensibilidade auditiva desse autista é enorme, é uma sensibilidade absurda que eles tem e chega a causar dor física. Até a frequência sonora imperceptível para nós em alguns ambientes, eles sentem e sofrem, não precisa nem ser propriamente o som, mas a frequência já incomoda eles. E com o fogos de artifícios é o que melhor dava para trabalhar a previsibilidade. E na comunidade autista as pessoas se levantam para dar um grito em. Uma direção, todo mundo sai gritando sem direção, sem parar para pensar avaliar a situação de verdade.
É um processo longo ?
Então essa jornada minha começou três anos atrás quando eu me posicionei contra a proibição em um fórum nacional de discussão sobre o autismo. Depois disso na época eu fiz procurada pelo James Eduardo da loja Fogos Tupã, ele me encontrou através do querido Marcos Sobhie, presidente em exerciser da APAE na época, James conhecia o pessoal do setor pirotécnico, através dele foi possível começar um entendimento, uma troca de informações e entendimento entre mim e o setor pirotécnico.
E você tem abertura neste campo de pirotecnia?
Sim. Já em contato com o setor de pirotecnia, depois de muitas conversas, percebemos que seria adequado uma parceira, eles queriam na verdade entender, e saber se algo. Poderia ser feito, eles queriam compreender. E eu tinha a Solução. Eu trabalho com soluções, Marô, o Autismo Tupã, ele trabalha com soluções e a gente busca parcerias, e eu aproveitei a oportunidade de fechar uma parceria com a Piromax, que é a segunda maior fabricante de fogos de artifício do mundo, eles só perdem para a China, a Piromax é brasileira e eu fechei acordo com eles e a Amepirotecnia, para que fossem entregues abafadores de som, EPIs, atestados pela Anvisa, e aí nós tivemos que convencer toda a indústria de fabricantes de EPI, para vender os abafadores, quebrando uma convenção coletiva sindical . Camper EPI, eles fabricam abafadores excelentes, e eles nos vendem a valor de custo. Todo o projeto é custeado pela iniciativa privada. Eles me entregam os abafadores e eu vou distribuindo Brasil afora com meus parceiros, que entendem qual é a alma do projeto.
A alma e o objetivo do projeto?
E a alma do projeto é a seguinte, Maro, é não ficar se desgastando com aquilo que não vai nos trazer retorno nenhum, ficar brigando por algo que não nos ajuda de verdade. E aí a ideia é essa, é direcionar os pais, as pessoas envolvidas com a comunidade autista, quem tem filhos autistas ou parentes com autismo, a parar de ficar brigando, a gente se desgasta muito, dispensa uma energia muito grande em algo que não nos traz retorno. Eu digo sempre assim Maro, isso já virou um meme meu, muita gente falando de autismo, muita gente escrevendo livro de autismo, dando curso de autismo e ganhando dinheiro com o autismo, mas tem quase ninguém fazendo para o autista, então vamos parar de falar de autismo e vamos fazer para o autista, o autista no Brasil está precisando de muita coisa e ficar brigando para proibir fogos de artifício, o Brasil com a economia do jeito que está, eles não vão fechar uma indústria que entrega mais de um milhão e seiscentas mil pessoas e eu conheço pessoas que trabalham no setor de pirotecnia e indústrias de fogos direta e indiretamente que têm filhos com autismo, então a ideia é vamos lutar por algo que é efetivo na vida dos nossos filhos, o abafador de som.
Proibir os fogos de artifício não resolve o problema. As instituições que se juntam a nós da ABADI de Tupã, elas têm que entender a alma do projeto e entregar gratuitamente os abafadores para os autistas, junto com a cartilha com dicas de previsibilidade. Essa cartilha foi escrita por mim, com a participação de outras pessoas que eu chamei para fazer parceria comigo, pessoas que foram escolhidas a dedo. Eu sou a autora dessa cartilha, dando dicas para os pais, é de pais para pais.
Somado a tudo isso concluímos que ?
Então nós entregamos os abafadores de som EPIs em três atenuações de decibéis diferentes, eu tenho três modelos Eu tenho um de 16 decibéis, um de 18 decibéis e outro de 26 decibéis, atenuação de decibéis Depois eu te mando fotos dos modelos. Nós entregamos gratuitamente para os autistas que fazem o cadastro conosco, entregamos também o cordão de girassol que simboliza a deficiência oculta e a cartilha para que eles recebam dicas de pessoas que vivem a mesma situação, dando orientação do autista que se incomoda com liquidificador, com aspirador de pó, para que os pais possam aprender com a experiência de outros pais. E aí nós explodimos aqui na Alta Paulista, chegando até a Grande São Paulo. Temos uma lista dos municípios que que entreguamos os abafadores aqui em São Paulo e aí Santa Catarina se interessou pelo projeto e depois de algumas conversas, algumas reuniões, autorizamos para que o projeto fosse para o estado de Santa Catarina em Florianópolis, onde foram entregues dois mil abafadores em Florianópolis através da Ama Floripa, que é uma equipe maravilhosa, nos tornamos grandes amigos e eles distribuem a nossa cartilha aqui de Tupã e distribuem os abafadores em Florianópolis.
E sobre o Rio?
E aí, finalmente, o Rio de Janeiro. O Rio de Janeiro se interessou pelo projeto há dois meses atrás, e aí nós começaram os alinhamentos. O Vicente da indústria pirotécnica do Rio de Janeiro, através da associação AME Pirotecnia, buscaram formas de estar implantando o projeto. Como temos algumas regras para receber o projeto, precisamos algumas reuniões, fazer um alinhamento, pois o Rio de Janeiro é muito grande e a Suderj abraçou o projeto junto a Apirj. E aí, veio a a oportunidade do Estádio da Maracanã, o Lendário Estádio do MARACANÃ . Foi preciso lidar com as regras do Maracanã, que são muitas. O George Telles foi espetacular, Vicente tbm. Enfim, fizemos um acordo, um alinhamento, todas as autorizações. George foi meu representante no Rio de Janeiro é me encheu de orgulho, ele esta de parabéns. George Telles – Movimento Autista do Brasil Onda Autismo é da comunidade autista do Brasil junto comigo, eu sou conselheira estadual, pelo estado de São Paulo ele é conselheiro. Estadual pelo Estado do Rio. E ele, eu, ele e toda essa equipe do governo do Rio, nós conseguimos colocar 11 autistas no estádio do Maracanã, pra tirar foto, pra entrar no campo com os jogadores. Todos os autistas usando os abafadores e levando as nossas cartilhas, que são aqui de Tupã. Esse é um projeto que nasceu em Tupã, que esta chegando em todo o Brasil.