Muitas vezes me pego admirando o ambiente em que estou, independente da simplicidade ou elegância. Há sempre alguma coisa a observar, e tudo há de ser enfeite nos olhos de quem sabe ver, mas os mesmos olhos sem mãos cuidadoras, podem levar ao fim aquela beleza subliminar.
Lembro de ver em desenhos e filmes antigos como os caçadores empalhavam suas caças depois do abate e os faziam de troféu na parede ou tapete, e aos poucos aquela parede fazia se tornava um hall, marcado pelos seus feitos. Os tempos passaram e a arte da decoração segue a mesma. O enfeite sempre esteve presente, e muitas vezes simbolizavam algo, como as pinturas rupestres que expressavam a vivência dos povos daquela época; hoje em dia há muitas vertentes dessa arte, tanto o graffiti quanto a pichação, que expressam em várias formas o estilo de vida urbano. Desde os primórdios da humanidade buscávamos formas de nos enfeitar. Acontecimentos naturais do nosso corpo como crescimento dos cabelos e barba foram tornados em símbolos, e se quisessem ir mais além, há como marcar seus corpos também, e de muitos meios. E em todas as decorações, em tudo que consideramos belo, se não houver zelo, o tempo chega e tudo se deteriorará. Se pensarmos bem, chega a ser tragicômico quão efêmera é nossa existência. É até difícil dizer se a beleza da vida está em ela ser frágil, ou ela ser frágil porque é bela.
Tudo isso me remete a tempos mais simples, quando eu apenas admirava as plantas, mas não imaginava que elas eram tão parecidas conosco.
Sempre que eu tinha a chance, pedia aos meus pais para que me comprassem uma flor ou alguma planta que não tinha tanto valor para mim, não para eu me recordar de seus nomes, pelo menos. Eu as admirava, mas não sabia como cuidar delas.
Nenhuma flor durava muito nas minhas mãos; em algum momento eu aguaria ela constantemente, em outras horas eu as encharcava, mas na maior parte do tempo eu apenas esquecia que elas precisavam tanto de nutrientes, de cuidados, quanto eu. Indiferente, eu as deixava à deriva até que elas perecessem. Era diferente, porém, quando eu plantava um feijão num pedacinho de algodão. Ver ele nascendo aos poucos era mágico. Inclusive, me lembro de uma atividade de férias, a minha primeira, que seria analisada no primeiro dia de aula do Terceiro Ano, também conhecido como Segunda Série.
Eu passei os dois meses de férias como uma criança sem qualquer preocupação, viajando e brincando, mas quando voltei para casa na última semana, me lembrei da atividade do feijãozinho. Só de comentar isso com vocês chego a arrepiar, pois a ansiedade foi tanta que me marcou até hoje.
Avisei minha mãe sobre a atividade, e prontamente começamos a fazê-la.
Foram os três dias mais intensos da minha vida. Acreditem.
Eu o regava com cuidado todos os dias, o alocava em ângulos específicos da janela da cozinha para sempre pegar Sol, e um dia antes das aulas começarem, ele finalmente nasceu.
Não sei se meus coleguinhas de sala mantiveram seus feijõezinhos vivos por dois meses, mas eu tive muito orgulho dos “míseros” três dias de vida do meu.
Mas como tudo que é bom dura pouco, depois que entreguei a atividade a minha nova professora, que certamente estará presente em algum dos meus textos futuros, me desapeguei do mesmo. Não sei dizer se o que sinto são anseios do passado quanto àquele momento que eu tinha que correr contra o tempo para fazer um feijão nascer, ou orgulho de tê-lo feito.
Ao menos, ele deixava a minha janela mais bonita.
Também me lembro de vários, mas vários peixes que tive. Sempre eram aqueles Bettas, mas me lembro de um douradinho chamado Tony. Ele não tem relevância nenhuma para o enredo desse texto, mas gosto de citar aqueles que me recordo.
Voltando aos Bettas, quando eu tinha cerca de três ou quatro anos, compramos um, pois eu era fascinado pela capa de um álbum de fotos onde tinha um desses peixinhos; ele era amarelo e roxo. Meus pais encontraram um amarelado, e eu gostava muito dele. Até aquele momento, ele era um dos sonhos que haviam se realizado. Eu o amava tanto, que certo dia, peguei um potinho de ração para peixe, creio que aquelas bolinhas, e despejei tudo no aquário. Acredito que na minha concepção da época, aquele tanto de comida equivalia a algum tipo de banquete.
No dia seguinte, quando acordei, a água do aquário estava rosa, e o peixe já não se mexia mais. Lá se ia mais um companheiro. Por um breve momento, ele embelezou aquela estante onde guardavam o aquário. E admito que, na época, a água rosada até que era bonita também, apesar do motivo ser um tanto quanto grotesco.
Por fim, também tive muitos cachorros, e um deles foi o Balto. Ele não era exatamente meu, ele só apareceu em casa um dia e ali ficou, por pouco tempo, mas ficou.
Ele era um vira-lata peludinho, de médio porte. marrom mas que já estava ficando acinzentado pelo tempo. Ele estava claramente bem velho e doente, mas eu o amava de qualquer forma. Eu não tinha um cachorrinho na época, então meus pais aceitaram que ele ficasse em casa, mas ele não ficava ali sempre, só por algumas horas, que era quando eu voltava da aula. Nós ficávamos na garagem juntos, já que meus pais não deixavam ele entrar.
Balto e eu passamos algumas tardes juntos, mas toda manhã ele ia embora. Num certo dia, eu esperei por ele, as horas passaram e ele nunca mais voltou.
Todas essas personalidades citadas, cada uma delas tem algo em comum, inclusive com o início do texto; elas embelezavam o ambiente.
Nós somos o ambiente. O quarto que dormimos, as ruas que passamos. Os ambientes existem porque alguém os idealizou, logo, ele é mutável, e assim se torna belo.
Enquanto houver quem idealize, sempre haverá quem embeleze, mas em algum momento, tudo terá um fim. E, sinceramente, isso não é tão ruim.
Queria eu poder viver num mundo onde tudo fosse belo e permanente, onde a alegria fosse constante e a chuva fosse lágrimas de emoção.
O mundo é tão grande, mas sei que tem espaço suficiente para todos nós, em nossas idas e vindas.
Eu não sei para onde foi aquele meu feijãozinho, muito menos se existe um Céu para aquele peixe e também espero que o Balto pôde ter boas refeições e carinho enquanto esteve fora.
Há momentos que amamos alguém, mas não era tempo de acontecer, e simplesmente seguimos caminhos diferentes por uma das partes desistir. Há momentos em que demonstramos demais e no final, aquela mesma sensação volta, mas dessa vez vinda de onde menos se espera, e se vai da mesma forma que chegou, do nada.
E está tudo bem.
Sempre esteve;
Sempre vai estar;
O que nos resta são as memórias, marcas que vamos carregar conosco de tempos que não vão voltar, mas ah, quão belas elas são…
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