22 de janeiro, 2025 07:56
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Não sei o que está acontecendo na cabeça das pessoas nesse momento, mas nessa semana pude notar que, por algum motivo, todos andam muito estressados, frustrados, cansados.
  Certamente vivemos momentos preocupantes, quiçá o maior deles desde que nos conhecemos por gente. Não tem como negar que o ano de 2020 é — até agora — a representação do ditado “nada está tão ruim que não possa piorar”.
  O período em que nos encontramos é tenso, ainda mais com as medidas recomendadas de distanciamento social, logo, grande parte das atividades que são essenciais para o bem estar do corpo e mente, provenientes da natureza e seus movimentos, estão barradas. Meu estilo de vida nunca foi tão ativo assim, mas entendo a ordem natural da coisa, e uma das reclamações que mais vejo por aí é da frustração em todos os sentidos e a solidão.
  Ah, a solidão. Esse mal que me consome diariamente. Por que as pessoas buscam tanto fugir dele em vez de enfrentá-lo?
  Desde que saímos do ventre de nossas mães, estamos ligados aos outros, mas de forma metafísica. Os anos passam e vamos adquirindo características próprias, sentimentos, e é aí que vemos que o mundo não é tão lúdico como pensávamos ser.
  Me lembro de quando percebi que minhas mãos não tinham só quatro dedos como os desenhos animados, e que a água não era azul. Tinha cerca de quatro à cinco anos, voltando do banheiro, na escolinha. Inclusive, acreditei por muito tempo que o ratinho Stuart Little existia no mesmo universo que o Homem-Aranha. Passado estes eventos, as surpresas desagradáveis foram outras; descobri que eu não era o centro do universo, e que as pessoas pensavam diferente de mim, e para vivermos bem, deveríamos nos adaptar a toda e quaisquer diferenças. Descobri que nem sempre as paixões são recíprocas, mas nem por isso o carinho deixa de existir. Ao menos, por minha parte nunca deixou.
  E assim vai indo, dia após dia.
  Limitados, nos fechamos e a reclusão não nos permite experimentar as outras experiências.
  Eu falo assim, mas admito que dentre meus muitos medos, um dos maiores é a mudança. Entretanto, com as experiências, acabamos por nos acostumar com as coisas. As dores não doem tanto, e alegrias duram poucos minutos, fora isso, somos abraçados pela neutralidade e apatia.
  Quem me dera poder acordar descansado, sem o peso dos arrependimentos do meu passado. Infelizmente, não tenho muitas opções; ou fico estagnado com eles, ou sigo em frente.
  Lembro de que meus pais me diziam, quando por algum motivo aleatório minha perna doía, que isso era sinal de que eu estava crescendo. Nem imagino quantas vezes fui dormir esperando pela manhã, só para que a dor passasse. E, bom, ela ia embora mesmo.
  Talvez uma das verdades universais seja que crescer dói.
  Choramos quando nossos dentinhos estão nascendo, não é?
  No meio disso tudo, desenvolvemos tantas coisas. Habilidades, distúrbios, costumes. É engraçado como o ser humano é capaz de se adaptar, seja de forma negativa ou positiva.
  Há tantas soluções diferentes para o mesmo problema.
  A decepção é uma questão realmente muito complicada de lidar, ainda mais quando não somos acostumados com ela. Tudo é propício a nos decepcionar, a partir do momento que esperamos algo. Acredito que a esperança, o ato de esperar, vem das raízes daquela fase mais lúdica da nossa vida, onde esperamos que um super-herói virá nos salvar. Ser realista não significa ser pessimista, muito menos conformista, e a partir do momento que pensamos com clareza sobre a situação que nos encontramos, tudo fica mais fácil de compreender.
  Me olho no espelho e me pergunto porquê me encontro tão sozinho. Também questiono o motivo de ignorarem os sacrifícios dos médicos e profissionais da saúde em geral e agirem como não estivesse acontecendo nada. O seu rolê de Sexta ou a viagem programada realmente vale a sua vida e de tantas outras pessoas?
  Já fui muito machucado, mas também machuquei.
  Não quero dizer que as escolhas da vida estão nas suas mãos, porque não estão. Não é simplesmente querer que se chega lá, que encontramos a pessoa certa — se é que ela existe —, mas aceitar que somos todos passíveis das mesmas coisas torna a vida tão mais fácil.
  O que é o fracasso? O que é sucesso? Quaisquer perguntas feitas sobre algo metafísico jamais terá uma resposta 100% concreta, que não seja contestável. Todas se diferenciarão.
  Portanto, qual a necessidade de nos desesperarmos se nosso fim é o mesmo? Qual a pressa?
  Certa vez me disseram que eu tinha muitas perguntas, e que tudo que eu dizia terminava em uma questão. No momento fiquei envergonhado, mas hoje em dia gosto disso. Acredito que, se tudo tivesse uma resposta, um porquê, a vida seria um cálculo matemático, onde o resultado final sempre daria em zero.
  Eu disse muitas coisas que não queria, também fiz muitas coisas que, hoje em dia, não faria. Mas quem não?
  Não somos maus por sermos quem somos.
  Eu não falhei por preferir tomar Fanta Uva e ficar em casa, na minha, no fim de semana. Aqueles que preferem encher a cara e sair na Sexta e só voltar no Domingo também não. No fim das contas, só estamos buscando um rumo para seguirmos, encontrar uma plenitude. Há quem diga que esta só se encontra na espiritualidade, outros no gozo, mas quem somos nós para garantir alguma coisa?
  Não falhamos por ter um corpo assim ou assado, nem por falar de um jeito, andar de outro. Estar fora do padrão não é ruim, e estar nele também não. O que importa é como se encontra o coração dentro de nós.

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